top of page
Foto do escritorPássaro Azul

O Amor e a Vida que Surgem dos Encontros Inesperados

Atualizado: 19 de jun. de 2020

A convite do nosso blog, a escritora, cineasta e fotógrafa Marina Martins, relembra a experiência de assistir aos 14 anos o espetáculo Ensina-me a Viver, que em 2020 recebeu o convite e patrocínio da Porto Seguro para voltar em cartaz em uma nova montagem comemorativa. Com o relato cheio de otimismo e poesia, Marina nos conta as incríveis "coincidências" que 10 anos mais tarde viriam unir seu trabalho com o do ator e diretor Arlindo Lopes no musical infantil Ombela - A Origem das Chuvas.

Marina Martins @eumarinanina

Mestra em Cinema, escritora e cineasta - Fotos de @marcelacure



Não sei dizer se encontrei Ensina-me a Viver ou se ela me encontrou. Em suas diversas formas: peça. Filme. Livro. A primeira vez que assisti ao espetáculo foi em 2009, no FITA (Festa Internacional de Teatro de Angra), eu tinha 14 anos. Aquele espetáculo foi uma explosão. Tudo nele transborda sentimento. Eu sempre fiz teatro e, naquela idade, começava a querer cursar cinema na faculdade. De repente, me deparava com uma peça que misturava as duas artes e, além de trazer atuações incríveis, também trazia cenários lindos, uma trilha sonora maravilhosa e uma explosão de poesia que me envolveu do início ao fim e fez com que eu terminasse o espetáculo em prantos. Naquela época, eu ainda não conhecia Harold and Maude e, depois da peça, precisava assistir ao filme. Não encontrava em locadoras, na época não havia streamings, eu não baixava nada, fui me deparar com o DVD muito tempo depois, vasculhando a sessão de DVDs da Travessa. Nunca tinha assistido e, mesmo assim, comprei. Precisava saber como era aquela história em sua forma cinematográfica, entender o porquê do filme ser um clássico.






> Harold and Maude de Colin Higgins é um filme de 1971 com direção de Hal Ashby, tendo Ruth Gordon e Bud Cort como os personagens principais. O filme logo ganhou uma adaptação teatral para a Broadway em 1978. Aqui no Brasil ganhou o título de Ensina-me a Viver.







> Em 2013 a Editora Record reconhecendo a importância da montagem protagonizada por Glória Menezes e Arlindo Lopes com direção de João Falcão, resolveu imortalizá-la com o casal, ilustrando a capa no relançamento do romance de Colin Higgins na edição de bolso. A adaptação de 2007 esteve em cartaz por 6 anos, encerrando em 2015 com um público de 850 mil espectadores, conquistando a crítica especializada e vencendo 6 prêmios em 2008.





" Enfim, nosso encontro aconteceu de uma vez por todas... éramos parceiros na arte."


Por falar do meu encontro com a peça, não tem como escrever sobre Ensina-me a Viver sem mencionar meu(s) encontro(s) com Arlindo Lopes. Já o tinha visto em Da cor do pecado, mas o encantamento aconteceu ao vê-lo como Harold, gerando em mim uma arrebatadora paixão adolescente, não sei dizer se por Arlindo ou por Harold - espero que por Arlindo, já que o personagem é um tanto peculiar, mas atire a primeira pedra quem nunca se apaixonou por personagens peculiares. Dois anos depois, em 2011, nos encontramos em um café de Paris, eu fui cumprimentá-lo e falar que eu o conhecia por conta do espetáculo - ele também se lembra bem desse dia, fui descobrir depois. E então a minha irmã, a atriz Juliana Martins, trabalhou com ele em uma novela. Muitos e muitos anos depois, já em 2019, no dia em que eu voltei ao Rio de Janeiro após concluir um mestrado em cinema, feito fora do Brasil. Nesta ocasião, minha madrasta, a figurinista Tereza Nabuco, estava trabalhando no musical infantil Ombela - A Origem das Chuvas, adaptação do livro homônimo de Ondjaki, dirigida por Arlindo, que precisava urgentemente de uma assistente de direção. Por conta de minha experiência com o teatro e no cinema, Tetê me indicou. Enfim, nosso encontro aconteceu de uma vez por todas. Agora eu não era mais só fã de Arlindo, éramos parceiros na arte. Além de ser alguém que eu já admirava desde o primeiro encontro - aquele em que eu estava na plateia e ele no palco - aos 24 anos, Arlindo se tornou para mim um colega e um amigo.


Da esquerda para direita: Marina e Arlindo em 2009 após a sessão de Ensina-me a Viver no FITA (Festa Internacional de Teatro de Angra) e em 2019 nos bastidores do espetáculo infantil Ombela - A Origem das Chuvas.


Parte da equipe com Marina, Arlindo e a figurinista Tereza Nabuco na sessão de fotos da primeira versão do elenco de Ombela - A Origem das Chuvas. Foto: Renato Mangolin @mangolin


Alguns dos registros que Marina, na versão fotógrafa, fez dos bastidores de Ombela - A Origem das Chuvas. O elenco se prepara para mais uma sessão. Da esquerda para a direita: Renata Vilela, Bukassa Kabengele, Marília Lopes e Orlando Caldeira. Abaixo o elenco em uma das últimas cenas do espetáculo: da esquerda para a direita Marília Lopes, Lu Fogaça, Bukassa Kabengele, Sara Hana, Orlando Caldeira e Renata Vilela.



"Ensina-me a Viver é uma obra que fala sobre vida, morte e encontro. É interessante escrever sobre ela neste atual momento do mundo, quando a iminência da morte assombra a realidade de forma que parece fictícia."


Ensina-me a Viver é uma obra que fala sobre vida, morte e encontro. É interessante escrever sobre ela neste atual momento do mundo, quando a iminência da morte assombra a realidade de forma que parece fictícia. Uma morte que pode vir de algo que a gente não consegue nem ver e que precisamos nos isolar para evitá-la ao máximo. O isolamento atrapalha os encontros, aqueles que vão além das telas. Harold é esse jovem obcecado com a ideia de morrer, sempre performando sua partida sem de fato partir. Por outro lado, Maude é uma velhinha cheia de vida, que passa os dias sob a iminência da morte com a certeza de que, a qualquer momento, seu momento chegará. Harold se aproxima da morte de diversas maneiras, por entre performances, idas a funerais ou mesmo sua personalidade mórbida, e Maude sabe que está perto dela, mas continua a seguir sua vida com alegria e lidar com a morte de forma natural. A obsessão de Harold pela morte se mostra uma ausência de amor pela vida, que Maude o transmite. O encontro de Harold e Maude faz com que aquelas duas personalidades se complementem e, como diz o nome da obra em português, a senhora-girassol ensine o obscuro menino a... viver.





"A encenação é cuidada e leve. João Falcão encontra o tom exato para a mistura de realismo e quase-sonho... O Elenco está todo em sintonia com o texto. Arlindo tem atuação de ótima qualidade e Glória tem mais uma grande atuação no palco.... A integração dos trabalhos de Arlindo e Glória é impecável e o espetáculo encanta o público com sua qualidade e seu calor.”

Bárbara Heliodora – Jornal O Globo








Foto: Ronaldo Aguiar @presstheclickbutton




“Um apaixonado tributo à vida numa produção simplesmente imperdível!

A ótima química entre Glória e Arlindo gera risos e lágrimas na platéia...Se já achávamos João Falcão um diretor brilhante, agora acreditamos estar diante de um poeta da cena, também capaz de extrair irretocáveis atuações do elenco. Glória e Arlindo formam uma dupla deslumbrante. a trilha sonora é, sem dúvida, a mais criativa da atual temporada.”

Lionel Fischer – Tribuna da Imprensa







Foto: Ronaldo Aguiar




Os tempos já andam sombrios há muito e ter de volta Ensina-me a Viver nos palcos já seria, em qualquer conjuntura, um ode à vida.


Os tempos já andam sombrios há muito e ter de volta Ensina-me a Viver nos palcos já seria, em qualquer conjuntura, um ode à vida. Agora então, ela voltará num contexto pós-pandêmico, depois de um longo - e ainda desconhecido - período de isolamento social. E nada mais vivo do que o teatro, a arte que acontece tão perto de quem a vê e tão em tempo real. O verdadeiro e originário conceito de ao vivo, quase que concreto, e que não acontece dentro de telas. Ensina-me celebra a vida, acalma a ideia da morte e, além de tudo, celebra uma das coisas mais fundamentais do mundo: os encontros. Acredito que toda a explosão de sentimento e poesia que o espetáculo traz vêm da forma como ele retrata com tanta beleza e sensibilidade o amor e a vida que surgem dos encontros inesperados, mas, creio eu, que nunca são ao acaso.



Marina Martins se formou em 2016 em cinema na PUC - Pontífica Universidade Católica do Rio de Janeiro e durante esse período dirigiu o curta-metragem "Corpo Cru". O projeto nasceu a partir de um ensaio fotográfico para falar sobre a relação do corpo diante da sociedade e as pressões que a pessoas sofrem para se encaixar nos padrões sociais, corporais, de beleza, sexualidade, gênero e raça. Iniciou em 2017 seu mestrado em cinema na Université Panthéon Sorbonne, em Paris, se formando em 2019 com a dissertação "A(Re)existência dos Corpos no Cinema Brasileiro Contemporâneo", um olhar sobre o cinema brasileiro de hoje que enfatiza a ocupação e a resistência dos corpos nos espaços, diante da realidade sociopolítica brasileira atual. Estagiou e trabalhou por dois anos na TV Zero, na área de criação e na sequência fez assistência de roteiro para um série de ficção e foi assistente de direção de uma série documental "Eu, Adolescente" do GNT. Na França trabalhou em três festivais diferentes: Festival de Cannes com o longa "O Grande Circo Místico", Rencontres Internationales Paris-Belin e Mobile Film Festival. Em 2019 fez assistência de direção do espetáculo infantil "Ombela - A Origem das Chuvas" e trabalhou  na ópera para crianças "La Belle Lisse Poire du Prince de Motordu", produzida pela Bonfilm. Nesse momento trabalha como assistente de roteiro na Conspiração Filmes. 


91 visualizações0 comentário

Posts recentes

Ver tudo

Comments


bottom of page