O blog dessa semana é assinado pelo o ator e também produtor Luiz Henrique Nogueira. Nascido na cidade do Rio de Janeiro, descobriu sua paixão pelo o teatro enquanto cursava a faculdade de jornalismo da PUC-RJ. No segundo ano do curso, quando não se sentia feliz com sua escolha, resolveu prestar concurso para uma vaga de coordenador técnico do CEDOC - Centro de Documentação da TV Globo. Passou em primeiro lugar em todas as provas mas foi reprovado no psicotécnico, que após avaliação apontava que a escolha de Luiz Henrique era a arte. Ao passar na porta do curso de teatro Tablado resolveu entrar e entender "esse negócio de mexer com teatro". E não é que o psicotécnico estava certo. Luiz Henrique encontrou o prazer e sua turma, decidiu que seguiria com a arte, o teatro, mesmo que o cenário do país fosse um dos mais difíceis da nossa história, a era Collor em 1990. Orientado por um de seus professores, Bernardo Jablonski, resolveu se matricular na Faculdade da Cidade que tinha a coordenação do curso assinada pela diretora Bia Lessa, que mais tarde viria se tornar sua parceira de trabalho. Aqui ele nos conta como foi esse primeiro encontro com a Bia e o reencontro anos mais tarde, a criação da Companhia Teatral das Possibilidades!, a resiliência para se manter em uma área tão atingida pelos os movimentos políticos do país e a passagem importante por outros grupos como Fudidos Privilegiados, Cia dos Atores e Omondé. Luiz Henrique é dono de um humor inteligente e muito rápido, um talento para rir de si mesmo e do absurdo do mundo. Ator versátil, parceiro generoso no trabalho, na vida, um amigo que o teatro e nós ganhamos.

Luiz Henrique Nogueira
Ator e produtor
Agenciamento Iná Sinisgalli
"Me vi solto, me vi sozinho, me vi um possível não sobrevivente.... Mas os deuses do teatro me protegeram, e segui, sempre me aproximando de grupos, sempre buscando minha tribo, sempre com essa nostalgia de estar em família em cena..."
Me formei ator em 1990, num curso técnico coordenado por Bia Lessa que na época afirmava que mais importante que ser ator era fundamental sermos atores artistas, atores criadores, ou seja, alguém que exerce a função de ator de uma forma mais abrangente e autônoma.
Era o discurso do ator que não fica a disposição do mercado, que não aguarda o convite de trabalho que virá, ou não, para seguir atuante.
Éramos 47 alunos. “Daqui, em dez anos teremos no máximo 6 ou 7 atores trabalhando." afirmava Bia Lessa diante da turma. “Criem o espaço de vocês. Se viabilizem. Se juntem em grupos”.

A diretora Bia Lessa coordenava o departamento de teatro da Faculdade da Cidade.
Era uma época devastada da cultura, sem internet, sem o cinema, dizimado no governo Collor, com poucos canais de TV aberta apenas e sem leis de incentivo ao teatro. Só existiam patrocínios, decididos dentro dos departamentos de marketing das empresas. Tudo muito árido.
Alguns anos antes tivemos um boom de grandes companhias de teatro no RJ. Asdrúbal Trouxe o Trombone, Manhas e Manias, Pessoal do Despertar entre outros. Por isso, já no meio da Faculdade nos juntamos, 9 alunos sedentos de fazer parte dessa meia dúzia profetizada pela Bia, e criamos a Companhia Teatral das Possibilidades! Parece pretensioso? Parece... e acho que éramos.... mas ali foi o berço do profissional que me tornei e reverbera em mim até hoje 30 anos depois.

A Companhia Teatral das Possibilidades! era formada por: Ana Maria Sá, Cláudio Mendes, Margot Carone, Isabel Muniz Lyra, Luiz Henrique Nogueira, Alexandre David, Marília Martins e Paola Forestieri.
Fizemos uma criação coletiva, A Linha, um espetáculo de 50 minutos extremamente influenciado pelo que víamos na época, um teatro poético, muito físico, e, sim, metido a beça...
Apresentamos dentro da faculdade, e em pequenas viagens que nem sei como conseguimos. Nos formamos e seguimos com a Companhia, agora já em 6 apenas... e fizemos mais dois espetáculos: Flores de Aninga , uma colagem de textos censurados durante a ditadura brasileira e Assim que Passam Cinco Anos, um texto inédito no Brasil de Garcia Lorca com direção de Gilberto Gawronski.
Sem patrocínio e sem apoio, abrindo um espaço no Museu Histórico Nacional, vivenciamos um retumbante fracasso na temporada carioca e sucumbimos a esse deserto cultural que era o Brasil em 1992, vivendo um doloroso processo de impeachment do nosso famigerado presidente Collor.
Me vi solto, me vi sozinho, me vi um possível não sobrevivente....
Mas os deuses do teatro me protegeram, e segui, sempre me aproximando de grupos, sempre buscando minha tribo, sempre com essa nostalgia de estar em família em cena...

Luiz Henrique em cena do espetáculo Cock - Briga de Galo de Mike Bartlett com direção de Inez Vianna.
Trabalhei com a Cia de teatro do diretor Moacyr Góes no Espaco 3, na época nos fundos do Teatro Villa-Lobos, trabalhei com os Fudidos Privilegiados, Cia de teatro formada pelo diretor Antônio Abujamra, trabalhei como assistente na Cia dos Atores do Enrique Diaz e recentemente com a Omondé de Inez Vianna. Fora as que tentei e não rolou como a Cia de Construção e Demolição do diretor Aderbal Freire-Filho!
Luiz Henrique Nogueira com os parceiros de cena, Felipe Lima e Débora Lamm no espetáculo Cock - Briga de Galo e com a Cia Omondé no espetáculo As Conchambranças de Quaderna, ambas com direção de Inez Vianna.
O Teatro me recebeu, me aceitou, e me abençoou com grandes encontros, e mantive sempre esse espírito de grupo mesmo estando em elencos avulsos.
E mantive também esse espírito empreendedor, fundamental a meu ver, pra uma satisfação e um orgulho diferentes de apenas “fazer uma peça”....

com Kika Kalache e Rubens Araújo em O Pedido de Casamento de Tchekov que esteve em cartaz no CCBB - RJ
Produzi Tchekov no CCBB do RJ com Kika Kalache com quem me formei anos antes na faculdade, produzi Jô Bilac, porque me apaixonei por essa geração de autores brasileiros sensacionais de uma geração que veio depois da minha, e recentemente produzi PI - Panorâmica Insana com a Cláudia Abreu, parceria deliciosa numa novela, que claro, foi parar aonde?
No teatro, claro!
E com direção de quem? Da Bia Lessa.
Porque 30 anos depois eu precisava celebrar, agradecer, e falar em cena pra minha mestra, minha referência maior, e hoje em dia uma amiga querida: BIA, EU FIQUEI!!!!!
"O Teatro me recebeu, me aceitou, e me abençoou com grandes encontros, e mantive sempre esse espírito de grupo mesmo estando em elencos avulsos."
Luiz Henrique Nogueira, Cláudia Abreu, Leandra Leal e Rodrigo Pandolfo em cena do espetáculo PI - Panorâmica Insana com direção de Bia Lessa, vencedor do Prêmio APCA de Melhor Espetáculo em 2018. O elenco reunido com a diretora nos bastidores do espetáculo.
Evoé! E viva o teatro brasileiro!!!
Ps1 Sim, somos apenas 6 atores daquela turma de 47.... Ps Dentre muitos outros espetáculos fiz também O Jardim Secreto com Arlindo Lopes, Elisa Pinheiro, Grasiela Müller... sim também faço parte da familia que criou esse blog!
De cima para baixo Luiz Henrique Nogueira com Elisa Pinheiro, Grasiela Müller e Arlindo Lopes em O Jardim Secreto; Com Cláudia Abreu na novela Cheias de Charme e repetindo a parceria no espetáculo PI - Panorâmica Insana; Com Taís Araújo e Cris Larin no espetáculo Caixa de Areia; Como Belisário Camargo em Saramandaia ao lado de Aracy Balabanian; Com Titina Medeiros na novela Geração Brasil; Como Ubiracy de Freitas na novela Senhora do Destino; E no trabalho mais recente a novela Verão 90 ao lado de Isabelle Drummond e Claudia Raia.
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