O blog dessa semana é assinado pela cantora, compositora e atriz Lu Fogaça que essa semana está lançando o docmúsica Escolhas escrito e dirigido por Arlindo Lopes na qual é protagonista e lança 7 canções de sua autoria e de alguns de seus parceiros de jornada, em especial Jorge Mendes, seu parceiro musical há 10 anos, que assina a direção musical e arranjos da produção que tem a edição e a montagem de Gilberto Filho e as imagens de Beny Cazim. O documentário que foi rodado na comunidade do Morro do Pinto/RJ, onde Lu passou parte de sua infância e juventude, é costurado por depoimentos da protagonista, de sua avó, Dona Maria e sua parceira de trabalho, a maquiadora Vanessa Sant´ana. Ao abordar a trajetória pessoal e profissional da vocalista o filme revela com poesia e leveza a beleza e o antagonismo da música popular brasileira mergulhando em aspectos fundamentais da nossa vida: a espiritualidade, o corpo e a convivência com o outro. O projeto foi realizado com o prêmio concedido no Edital Cultura Presente nas Redes #CulturaPresente da Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa do Rio de Janeiro @sececrj e está disponível no canal do Youtube da Pássaro Azul Produções. Nesse texto Lu Fogaça nos conta um pouco do seu reencontro com o feminino, a espiritualidade e a meditação para fazer as pazes consigo mesma e alcançar seus objetivos profissionais tão sonhados. Em um país atravessado por contradições e desigualdades, que afetam os sujeitos não apenas em seus direitos e deveres, mas também em seus desejos, seus amores e sua religiosidade, Lu Fogaça nos mostra sua força e resiliência para se tornar uma artista potente que tem muito a nos contar e ensinar.
Lu Fogaça @lu.fogaca
Cantora, Compositora e Atriz
Foto de Fábio Pelegrino @fabiopelegrino_fotografia
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“ Numa manhã de sábado, após uma noite mal dormida, ouvi uma voz que dizia: Levanta dessa cama, faz as pazes contigo retrate-se com as pessoas e dedique-se a descobrir o seu novo caminho.”
Deixa eu me apresentar...
Sou Lu Fogaça, mulher preta, nascida na região Portuária e amo voar.
Aliás, você sabia que as escolhas lhe permitem voar?
Em 2018 entrei no mar de tristeza que parecia não ter fim. Naquele período estava morando distante da família, dos amigos, do trabalho. Não sabia mais quem eu era, mas sabia que precisava mudar. Essa mudança tinha de ser de dentro pra fora.
Minhas asas estavam feridas, sem força para voar.
Iniciei um processo doloroso. Escrevi uma carta para Deus que deu quase um livro de cabeceira... rs. Na carta fiz alguns pedidos, dentre eles o de gravar meu trabalho autoral.
Lu Fogaça se apresenta com o Trio.
A partir desse grupo de Chorinho Pixin-Bodega, Lu e Jorge Mendes estabeleceram sua parceria que já dura 10 anos.
"A medida em que me aprofundava nas meditações guiadas, ia, aos poucos retomando a vida."
Comecei o processo muito entusiasmada, porém, aos poucos fui me sentindo desconfortável, desajustada, inadequada. O repertório de relacionamentos não me cabiam mais.
Fiquei confusa, irritada, perdida num oceano de incertezas. Briguei com Deus e tudo era motivo para discutir com os outros.
Pela janela do meu quarto entrava sol, via bananeira, plantas, vida brotando do chão. Ouvia os passarinhos cantando, muitas vezes era acordada por eles. Via as montanhas.
Como eram bonitas as montanhas.
Numa manhã de sábado, após uma noite mal dormida, ouvi uma voz que dizia: Levanta dessa cama, faz as pazes contigo retrate-se com as pessoas e dedique-se a descobrir o seu novo caminho.
Lu com seu irmão Luciano Fogaça que também é músico e tem uma música em parceria com Marina Abrão que está no documentário Escolhas. Ladeira (Vem pro Morro) é um ponto alto no filme com a interpretação de Lu e as participações especiais por vídeo de Juliana Mello, Cintia Sant´anna e Jorge Mendes. Abaixo Lu em sua primeira comunhão. Foi através da igreja, especificamente na Coroação de Maria, que Lu começou a cantar nas missas e fazer parte do Ministério de Música e assim iniciou sua jornada musical.
Novo caminho? Meu corpo doía tanto que não hesitei questionar. Na tentativa de amenizar o surto numa madrugada, conheci o trabalho de meditação de Louise Hay no youtube.
A medida em que me aprofundava nas meditações guiadas, ia, aos poucos retomando a vida. Paralelo a isso, passei por 4 psicólogos sem sucesso, ganhei peso e não queria mais morar longe do que mais amo fazer, que é cantar.
Depois de integrar um grupo de Pagode Puro Romance com 7 meninos, quando tinha 13 para 14 anos. Em seguida Lu passou no concurso da nova Rainha da Bateria da Escola de Samba Vizinha Faladeira. Através desse universo começou a integrar rodas de Samba, com participações no Trem do Samba no Dia Nacional do Samba, até conhecer se apaixonar pelo o Chorinho quando integrou o grupo Pixin-Bodega.
Em novembro de 2018, decidi comemorar meu aniversário 2 vezes e prometi que dali em diante ia cuidar da minha criança interior.
Em dezembro tive uma experiência surreal numa praça no final da tarde, ao observar como as árvores entrelaçadas se relacionavam sem que perdessem, cada uma, sua singularidade, beleza, autenticidade.
Naquele momento tive um despertar espiritual.
Desde de então fiz a escolha de melhorar a mim mesma, buscando leveza e resignificando o amor, a espiritualidade, as amizades relação com a família, trabalho, dinheiro e contato com meu lado feminino, que até então desconhecia.
No musical infantil Ombela - A Origem das Chuvas, Lu Fogaça pôde mostrar todo o seu talento para o humor com a personagem Van, uma rã faladeira que era a melhor amiga da protagonista Ombela (Sara Hana). Também em cena com ela o elenco Marília Lopes, Renata Vilela, Bukassa Kabengele e Orlando Caldeira. A personagem acelerada deixava evidente o lado "espevitada" de Lu Fogaça, apelido que carinhosamente recebeu ainda bem jovem quando começou a estudar Teatro no Galpão Aplauso, onde permaneceu por sete anos e através do qual fez diversos espetáculos que rodaram o Brasil e países como Uruguai, Estados Unidos e Alemanha.
"Tive medo, mas continuei a caminhada. Tenho medos, mas continuo a caminhada."
Quando entendi que o que estava fora, refletia o que estava dentro, compreendi que para dar continuidade a minha missão precisava largar mão do controle. Controle de tudo e todos.
Eu só queria ser livre para ser o que eu quisesse.
Tive medo, mas continuei a caminhada. Tenho medos, mas continuo a caminhada.
Foto de Fábio Pelegrino @fabiopelegrino_fotografia
Hoje eu olho pra dentro, para os lados e sei que posso contar com o bando de pássaros ás 16h50 ou a qualquer hora para me apoiar e auxiliar em todos os momentos.
Eu olho olho pra dentro de mim hoje e sinto o quão importante foi a minha decisão de escolher ficar comigo. Ser minha amiga, companheira e leal.
Chorar cura, sabia?
Eu choro de tristeza, mas choro mais de alegria.
Sei que tenho muito a aprender e é neste lugar de aprendizado que quero seguir, me acolhendo e acolhendo o outro.
Todos os dias digo sim pra vida, sim para as mudanças, sim a arte de viver é viver.
Eu escolho Só por hoje... me escolher.
Eu escolho só por hoje voar... mesmo com o lado da asa em constante recuperação!!!
Bastidores das filmagens do documentário Escolhas no Morro do Pinto: King Kong. A avó de Lu, D. Maria Aparecida Noleto ajuda a abrilhantar o filme com tiradas hilárias e espontâneas. Lu com a equipe reduzida, o diretor Arlindo Lopes, a maquiadora Vanessa Sant´ana, o responsável pelas imagens Beny Cazim e o platô Jefferson Sant´ana.
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